segunda-feira, 14 de junho de 2010

Do tempo ou Do artista paradoxo

Tô sem tempo pra ser artista porque estou gastando muito tempo trabalhando como artista.

Do aviso das performances ou Antes atrasado do que nunca

E em breve, notícias, detalhes e registros sobre performances neste blog / caderno.

Fica o suspense.

Das mortes prematuras do 7º andar ou Da morbidez que habita minha cabecinha doente mas nem tanto

- Pár ou ímpar?
- Pár.
- Ímpar.
(ambos) - Do lá sí já!
- Ganhei!
- Hum merda. Tá bom, eu pulo.
- Mas mergulha direito, de cabeça.
- Tá bom, tá bom. Depois você pula.
- Ok.
- Lá vou eu: 3, 2, 1...

(ouve se a batida surda de um corpo caido do sétimo andar)

- Ah, pensando bem... acho que não vou brincar mais não.

(sai pela porta da direita enquanto sons de sirene são ouvidos ao fundo. Uma comitiva de 5 carros de polícia e uma ambulância da UNIMED escolta o ônibus do time de Softball das Ilhas Virgens. Ouvem-se gritos, gol da seleção brasileira na semi final do futsal).

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Glossário:
SOFTBALL - baseball para mulheres (descobri isso dia desses, tinha que compartilhar com o mundo).


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- Me faz um favor?
- Diz.
- Vai até o guarda roupa e pega aquela sua bolsa azul.
- A azul?
- Essa mesma.

(pega a bolsa)

- Pronto. E agora?
- Enche ela das suas roupas. O máximo que você conseguir.
- O máximo mesmo? Não vai caber tudo.
- Tudo bem se sobrar algumas do lado de fora. Mas enche o máximo.
- Ok.

(enche a bolsa)

- Pronto, terminei. E agora?
- Tá vendo aquela janela ali?
- Aham.
- Sobe no parapeito, conta até 5 de olhos fechados e depois se deixa cair.
- Até 5?
- Melhor ainda, conta até 3. De olho fechado.
- Mas a gente tá no sétimo andar. Não vai machucar?
- A vida é feita de riscos, não é verdade?
- É. Acho que você está certa.
- Vai lá. Faz isso por mim enquanto eu termino de esquentar a minha janta.
- Tá bom... olha, eu te amo, viu.
- Eu também. Agora faz isso por mim.
- Ok. 3... 2... 1...

(estrondo)

- É... acho que vou deixar pra jantar depois.

(Ela sai deixando o fogo ligado, depois de algumas horas o cheiro de feijão queimado toma todo o apartamento. No play abaixo da janela do apartamento um grupo de crianças brinca em torno do homem com a mochila azul salpicada de vermelho.
Alguém do apartamento vizinho grita:

- Alguém esqueceu o feijão no fogo!)

D'os Sete Gatinhos ou Ô Noronha, tu é um rapaz simpático

Adoro Nelson Rodrigues. Uma das peças que mais gostei de fazer foi Os Sete Gatinhos. Adoro a passionalidade e não lógica dos personagens. As esticomitias (uhm, que chique) e seus diálogos rápidos e suas estruturas apresentando os personagens e suas hipocrisias perante a sociedade.
E suas rubricas indecifráveis.
Nesse texto, Os Sete Gatinhos, o Nelson até que não dirige tanto quanto o habitual. Ele nem define tanto assim o cenário. Como ator é divertido entender (ou tentar entender) as rubricas mas não podemos nos fechar só a elas.
Saudades de encenar Nelson. Fiz o coro de Senhora dos Afogados, mas não tem a mesma profundidade da culpa do ser humano.

E da beleza de quando este se livra finalmente dela.

Do acaso do dicionário ou Porque eu tinha que ter faltado aquela aula, merda?

Mascarado
Entreaberto

Saída de um hospital. Um homem com as mãos na barriga sai do hospital. Ele cambaleia e cai. Muito preocupado com sua barriga, levanta e segue andando. Parece forte mas sente algumas pontadas de dor. Um mascarado o olha e o segue. O homem com as mãos na barriga fica nervoso e anda mais rápido, percebe que não conseguirá fugir do mascarado, volta ainda com a mão na barriga e o encara.

- Entreaberto - O que foi? Porque está me seguindo?
- Mascarado - Desculpe, não pude evitar. O senhor parecia estar a ponto de morrer a qualquer momento.
- Entreaberto - E o que isso lhe dá o direito de me seguir?
- Mascarado - Me desculpe. Não queria lhe assustar.

(o homem mascarado tira de sua maleta uma pequena bolsa com agulha e linha)

- Mascarado - Você quer emprestado?
- Entreaberto (confuso, como quem finge não entender) - E porque eu iria querer emprestado? E porque essa máscara?
- Mascarado - Se eu te disser vou ter que te matar. (entreaberto faz uma cara de espanto) Estou brincando. É só pra fechar isso aí. Você tá todo aberto, não tá?
- Entreaberto - Entreaberto. Não fecharam todo os pontos da minha operação de apêndice. Precisava sair rápido pra chegar no trabalho. Mas como fiquei três dias em coma no hospital por causa da operação eu não pude carregar meu celular e não posso ligar pro meu chefe pra avisar que já faltei 3 dias e vou chegar atrasado hoje. (como se tivesse um lapso de consciência). Hei, mas porque eu estou te contando tudo isso?
- Mascarado - Eu estou de máscara. Isso inspira mais confiança.
- Entreaberto - O que você falou não tem lógica.
- Mascarado - Estamos quites.
- Entreaberto - Enfim, tenho que correr. Não há taxis a essa hora e eu não ando de ônibus. Tenho fobia. Só mesmo andando a pé.
- Mascarado - Não quer mesmo a agulha e a linha?
- Entreaberto - Não. Definitivamente não. Mas você tem cigarros?
- Mascarado - Não. Minha máscara cobre o rosto inteiro. Se eu fumar eu fico sufocado.
- Entreaberto - Ok. Entendo.
- Mascarado - Mas, como eu ia dizendo. Você vai morrer?
- Entreaberto - Acho que não. Não pretendo.
- Mascarado - Eu estou te seguindo só por isso.
- Entreaberto - O que você vai fazer se eu morrer?
- Mascarado - Eu assisti um filme dia desses com o Hopkins. Ele usava uma máscara com a pele de um homem. Achei beminteressante, gostaria de testar. Mas como não sou um assassino eu não vou matar ninguém. Tenho que esperar alguém morrer. E você não sabe o quanto é difícil alguém morrer sozinho nessas ruas.
- Entreaberto - E porque me ofereceu a agulha pra eu melhorar?
- Mascarado - A agulha está enferrujada. Mas aí eu espero alguém morrer sozinho. Em grupo não consigo trabalhar. As pessoas julgam muito esse aspecto da máscara de ser humano.
- Entreaberto - Cabeças fechadas.
- Mascarado - Vai morrer ou não vai?
- Entreaberto - Hoje não.
- Mascarado - Merda. Ok, qualquer coisa me avise.
- Entreaberto - Está bem.
- Mascarado - Prazer.
- Entreaberto - Prazer.

Entreaberto segue andando e ouve Mascarado

- Mascarado - Tchau! (acena com uma das mãos)
- Entreaberto - Tchau! (num impulso levanta uma das mãos e acena para Mascarado. Suas visceras caem no chão manchando tudo de sangue. Ela geme e agoniza. Cai. Tenta juntar seus orgãos e por de volta mas não consegue, não tem forças. Trinca os dentes. Morre. Mascarado chega perto do rosto dele com um pequeno estilete e começa a tirar a pele de seu rosto enquanto resmunga).

- Mascarado - Pena. Esse cara nem é tão bonito assim.

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Como faltei a aula do sorteio dos personagens para criar um diálogo, pedi para que sorteassem (o pronome indefinido é a Patrícia) dois adjetivos no dicionário para criar o texto.
Deu no que deu.

Do Arquiteto em Helsinki ou Coisa mais fofa nhonhonho

Architecture in Helsinki - Fumble from Gill Biddle on Vimeo.



Só posto clipe velho mas nem tanto né?

De como começou ou Do começo do meio do caminho

Nel mezzo del camin (Olavo Bilac)

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...

E paramos de súbito na estrada
Da vida : longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha

Hoje segues de novo...na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.

E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo

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Foi isso aí que me fez interessar por poesia. E por causa da leitura.

Do Como Quem não é ninguém ou Importado de 2005

Sensação estranha. Sentimento estranho.
Andando em direção ao metrô Del Castilho, caminho rotineiro das minhas terças-feiras, fazendo sem medo ou vergonha exercícios recomendados pela minha fonoaudióloga.
Subindo as escadas de ferro que dão acesso ao metrô, duas senhoras tentam sem sucesso falar com uma terceira pessoa, e com o não surgimento da resposta esperada, riem como quem diz "eu hein" e vão embora, e eu finalmente a vejo.
Sentada no canto do último degrau que dá acesso a um longo corredor, com o rosto meio escondido, olhos fechadoscomo quem dorme (e talvez realmente dormisse), encolhida com os cabelos longos, cacheados, de uniforme do Pedro II. Blusa e saia (chuviscava insistentemente) do Colégio Pedro II.
Passei direto, talvez tenha chegado a olhar pra trás, pra vê-la de novo. Mas olhando ou não, por todo o caminho ela estava nos meus pensamentos.
Ela, ali, de saia e uniforme, enquanto chuviscava. Ela estava, era linda. De fato, qualquer menina é linda enquanto dorme, especialmente ela, mas estava no lugar errado. Na verdade, tudo convergia para uma daquelas cenas melancólicas de filmes ingleses, passadas em Londres. A diferença é que desta vez não era filme, era real. Aquela menina era real e não combinava com todo o resto.
Podia tentar (e tentei) fazer paralelos com Nelson Rodrigues (qualquer menina de uniforme escolar é Rodrigueano), Bertolt Brecht (qualquer pessoa jogada ao léu da consciência alheia retoma a Brecht), ou até Maria Clara Machado (era uma criança afinal). Mas o que não batia era o realismo imposto naquela cena, por mais teatral ou cinematográfico que aquele quadro fosse.
Perdido, fui até o guichê e comprei meu bilhete. Peguei um folheto qualquer sobre integração metrô-ônibus e tentei fingir a mim mesmo algum interesse. Um desastre.
Já com o bilhete na mão, resolvi tentar ver aquela menina de novo. Não dava pra vê-la da estação, então subi algumas escadase voltei a vê-la. E lá estava ela, como sempre esteve pra mim. A exata posição anteriore só um corredor de uns dez metros nos separando.
Na verdade mais do que isso.
Eu fiquei parado por uns quinze segundos, pensando, tentando tomar aqueles cinco copos de vinho internos que me trariam a embriaguez necessária capaz de vencer a timidez, o medo, enfim, a mim mesmo.
Uma coisa nos unia e talvez isso bastasse. Eu sou ex-aluno do Pedro II. Poderia ser eu ali. Seria o primeiro passo para algo que poderia fazer a diferença na vida daquela menina e mais ainda na minha vida.
E enquanto eu estava sempre em movimento, ela permanecia inerte, só, não sei se queria ter alguém do seu lado, se sonhava ou esperava alguém. Mas eu queria estar do seu lado. Talvez nem recebesse respota. Ou talvez conhecesse a pessoa com quem passaria o resto da minha vida, mas só queria a sensação de tentar ou poder ajudar. Não ter todos esses "talvez" agora.
E ao mesmo tempo ela dormia, e eu não queria acordá-la. Só queria que ela estivesse ddormindo em outro lugar que não ali.
Estava atrasado para onde ia. Quase que automaticamente, sai da minha inércia ativa e, sem conseguir achar os cinco copos de vinho, dei meia volta em direção ao metrô.
Sempre pensando nela, sempre querendo voltar, fui andando como que sem alma, introduzi o bilhete na catraca e passei para o outro lado.
Poderia voltar e fazer o que devia ter feito, mas simplesmente não fazia. Simplesmente continuava o que já tinha começado. E a cada estação que passava, pensava em voltar, mas não voltava.
E imagino se ela ainda está lá, ou aonde estaria. O que teria acontecido, qual o seu nome, que unidade do Pedro II estuda...
E que se mil pessoas passaram por aquela menina e nem perceberam, nem se importaram, pelo menos uma delas se preocupou e tentou voltar, ajudar. Mas não o fez. E o fato de não fazer faz essa pessoa ser exatamente igual a todas as outras que pasaram reto por aquela menina que dormia ali, na chuva.
E o mais estranho é que aquela menina nunca vai saber da importância que teve aquele momento pra mim. E eu nunca nem vou poder contar.

Sempre no futuro do pretérito. Tempo inútil.

Da festa de Aniversário ou Do cara que fez uma participação na novela das seis

Estava voltando da faculdade no ônibus. Horário de rush e eu estava em pé mais pro fundo do ônibus. Durante a viagem, a galera do fundão puxou salgadinhos, refrigerante e cantaram parabéns. Cantaram músicas de aniversário, ofereceram salgados. Catnaram "fulano roubou pão" com as pessoas do fundão e fizeram uma senhora levantar da cadeira pra ensinar uma música.
Isso aconteceu a alguns meses e eu lembro ainda hoje. As pessoas sorriam em um engarrafamento com fumaça nos olhos na linha vermelha. E cantaram juntas.

E cada uma deu tchau umas pra outras antes de saltar do ônibus. Essas coisas são absurdamente especias. Têm mais impacto no mundo do que qualquer tiro dado por aí.

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E passando nesse mesmo ônibus vejo no teatro Raul Cortez de Duque de Caxias a propaganda na porta gigante do teatro "Peça tal com Fulano da Novela das Seis". Eu não tinha ideia de quem era o fulano. Mas estava lá escrito.
Eu acho que subestimam a plateia caxiense. Em um lugar onde In On It tem um público razoável e está longe de ter uma "classe teatral" grande o suficiente pra encher um teatro, não acho que se precise falar do tal cara da novela das seis.

Mas eu já vi por aí um "com o cara que participou do Se Vira nos 30 do Faustão". Caxias ainda está com alguma moral.

Do Warhol equivocado ou Da Gata Sexy Mahine



Pop Cat Art.

Eu gosto da sensualidade e das cores coloridas.
Ah, e da redundância também.

Beijando os sem lábios ou Ai que saudade dos meus 17

The Shins "Kissing the Lipless" from Sub Pop Records on Vimeo.



Referências dos passados

"O Novo Inquilino" ou Quem sair por último apaga a luz e acaba a peça

Falando em rubricas, "O Novo Inquilino" do Ionescu é do cacete. Basicamente é um homem se mudando. O Eugenio trabalha com a linguagem e a perda do sentido das palavras e do diálogo a partir de uma porteira que fala para um homem que não quer ouvir. E os sentidos do que ela diz simplesmente vão se perdendo. E pouco a pouco os diálogos vão rareando enquanto as rubricas vão se tornando cada vez maiores.

Ionescu quase dirige a peça, mas não há o que fazer. A ação predomina da metade para o final com carregadores trazendo móveis para a casa do homem até ficar entulhado.
É muito divertido, sofisticado e simples ao mesmo tempo.

Será uma das minhas peças favoritas? Acho que não.

Mas é uma das mais interessantes. Isso sim.

"O Rico Avarento" ou De ler a peça que faço de novo

No meio da biblioteca de ATT está O Rico Avarento, de Ariano Suassuna. Qual não foi a minha surpresa. Li mais uma vez. A montagem bibelot minha do momento é "O Rico Avarento e Outras Histórias de Ariano Suassuna" que estará inclusive no Teatro Municipal de Niterói como infantil em agosto. Assistam porque vale a pena. Eu mesmo faço o rico.

Apesar de partir de um teatro de mamulengos, é perfeitamente possível ser montado por humanos (é o meu caso, pois eu sou humano em boa parte das vezes). As rubricas então se tornam interessantes pois dizem respeito a uma relação de bonecos. Mas o Suassuna faz muito isso em suas peças. Essa brincadeira do humano com o boneco para simbolizar uma humanização moral e talz.
É divertido fazer esse texto pra crianças pois apesar da moralização reliogiosa, o texto é recheado de pequenas sacanagens e termos como "Escreveu não leu, o cacete comeu." que podem parecer assustadores pro politicamente correto de hoje. E as crianças gostam. Se divertem. E os pais também.

Com os bonecos do mamulengo, uma certa inspiração do circo também acaba chegando e é dessa brincadeira que as relações de formam. As quebras da plateia e o Tirateima se dirigindo diretamente com seus a partes (ou à partes?).

Ariano Suassuna is cool. E ele deve ter sentido uma coceira ao ser chamado de cool.

Do Despertar ou Referências pra Int I

Gnarls Barkley - Who's Gonna Save My Soul from Chris Milk on Vimeo.



Essencial



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Boy Band com showzinho do cacete hein.