segunda-feira, 14 de junho de 2010

Do acaso do dicionário ou Porque eu tinha que ter faltado aquela aula, merda?

Mascarado
Entreaberto

Saída de um hospital. Um homem com as mãos na barriga sai do hospital. Ele cambaleia e cai. Muito preocupado com sua barriga, levanta e segue andando. Parece forte mas sente algumas pontadas de dor. Um mascarado o olha e o segue. O homem com as mãos na barriga fica nervoso e anda mais rápido, percebe que não conseguirá fugir do mascarado, volta ainda com a mão na barriga e o encara.

- Entreaberto - O que foi? Porque está me seguindo?
- Mascarado - Desculpe, não pude evitar. O senhor parecia estar a ponto de morrer a qualquer momento.
- Entreaberto - E o que isso lhe dá o direito de me seguir?
- Mascarado - Me desculpe. Não queria lhe assustar.

(o homem mascarado tira de sua maleta uma pequena bolsa com agulha e linha)

- Mascarado - Você quer emprestado?
- Entreaberto (confuso, como quem finge não entender) - E porque eu iria querer emprestado? E porque essa máscara?
- Mascarado - Se eu te disser vou ter que te matar. (entreaberto faz uma cara de espanto) Estou brincando. É só pra fechar isso aí. Você tá todo aberto, não tá?
- Entreaberto - Entreaberto. Não fecharam todo os pontos da minha operação de apêndice. Precisava sair rápido pra chegar no trabalho. Mas como fiquei três dias em coma no hospital por causa da operação eu não pude carregar meu celular e não posso ligar pro meu chefe pra avisar que já faltei 3 dias e vou chegar atrasado hoje. (como se tivesse um lapso de consciência). Hei, mas porque eu estou te contando tudo isso?
- Mascarado - Eu estou de máscara. Isso inspira mais confiança.
- Entreaberto - O que você falou não tem lógica.
- Mascarado - Estamos quites.
- Entreaberto - Enfim, tenho que correr. Não há taxis a essa hora e eu não ando de ônibus. Tenho fobia. Só mesmo andando a pé.
- Mascarado - Não quer mesmo a agulha e a linha?
- Entreaberto - Não. Definitivamente não. Mas você tem cigarros?
- Mascarado - Não. Minha máscara cobre o rosto inteiro. Se eu fumar eu fico sufocado.
- Entreaberto - Ok. Entendo.
- Mascarado - Mas, como eu ia dizendo. Você vai morrer?
- Entreaberto - Acho que não. Não pretendo.
- Mascarado - Eu estou te seguindo só por isso.
- Entreaberto - O que você vai fazer se eu morrer?
- Mascarado - Eu assisti um filme dia desses com o Hopkins. Ele usava uma máscara com a pele de um homem. Achei beminteressante, gostaria de testar. Mas como não sou um assassino eu não vou matar ninguém. Tenho que esperar alguém morrer. E você não sabe o quanto é difícil alguém morrer sozinho nessas ruas.
- Entreaberto - E porque me ofereceu a agulha pra eu melhorar?
- Mascarado - A agulha está enferrujada. Mas aí eu espero alguém morrer sozinho. Em grupo não consigo trabalhar. As pessoas julgam muito esse aspecto da máscara de ser humano.
- Entreaberto - Cabeças fechadas.
- Mascarado - Vai morrer ou não vai?
- Entreaberto - Hoje não.
- Mascarado - Merda. Ok, qualquer coisa me avise.
- Entreaberto - Está bem.
- Mascarado - Prazer.
- Entreaberto - Prazer.

Entreaberto segue andando e ouve Mascarado

- Mascarado - Tchau! (acena com uma das mãos)
- Entreaberto - Tchau! (num impulso levanta uma das mãos e acena para Mascarado. Suas visceras caem no chão manchando tudo de sangue. Ela geme e agoniza. Cai. Tenta juntar seus orgãos e por de volta mas não consegue, não tem forças. Trinca os dentes. Morre. Mascarado chega perto do rosto dele com um pequeno estilete e começa a tirar a pele de seu rosto enquanto resmunga).

- Mascarado - Pena. Esse cara nem é tão bonito assim.

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Como faltei a aula do sorteio dos personagens para criar um diálogo, pedi para que sorteassem (o pronome indefinido é a Patrícia) dois adjetivos no dicionário para criar o texto.
Deu no que deu.

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