quinta-feira, 24 de junho de 2010
Do Hotel Medea ou Do teatro interativo contemporâneo pop de potência
São obras que te surpreendem.
Hotel Medea.
Primeiro, tenho de deixar claro que o local onde a peça foi encenada (Oi Futuro) não ajuda em nada o ritualístico da primeira parte do espetáculo. Com muita roda, rituais e bumba-meu-boi, a atmosfera rústica e popular pretendia contrasta diretamente com a galeria do Oi Futuro altamente ocidental e moderna. Ao procurar fotos, achei ela sendo feita ao ar livre com uma grande fogueira e um ar muito mais soturno. O clima deve ser muito menos de festa e mais de ritual (sendo repetitivo). Ali, parece uma tentativa de Teatro Oficina sem a mesma potencia.
Termino a primeira parte surpreendido, pois esperava algo muito mais pesado e menos festivo mas suspiro "pô, um entretenimento pop contemporâneo". E pretendo só me divertir deli pra frente. Eram menos de duas horas da manhã. A peça iria até as cinco.
Aliás, eu fui o "very important man" que informou a hora pro "condutor" da peça.
A plateia, neste começo é conduzida de forma coletiva, e o trabalho de interatividade e de participação co público é em cima de grupo. Danças e cantos entoados por todos levantando o tal do sentimento oceânico.
Mas, porém, contudo, todavia quando essa busca da coletividade é substituida pela individualidade a coisa muda e é impressionante.
É clichê dizer que o público se torna um personagem, mas é verdade. E não só parte de um coro, mas você tem individualidade no meio de tanta gente. Você não é mais um no meio de tantos mas é tratado de forma única. As babás contam história e te dão chocolate. Você não é representado por apenas uma pessoa catada da plateia mas sas ações individuais atuam sobre o ator/performer que está interagindo com você.
A relação conseguida na segunda parte com as camas, a Medéia, as babás e até mesmo com o Jasão (e eu não esquecerei tão cedo da babá me entregando o celular com a mensagem de meu pai desejando bons sonhos) é impressionante. Há um jogo de distanciamento e aproximação de uma potencia emocionante.
Na terceira parte o espectador já está entregue e se diverte em fazer parte da peça. A questão toda é que temos a impressão de que além de assistir, o espetáculo quer nos ouvir também. As babás conseguem de fato criar uma relação afetiva com seus filhos.
O espetáculo é bem fechado em sua estrutura e o espaço dado ao espectador é limitado à medida que a história tem que avançar na direção necessária. Mas nos momentos em que a peça pergunta algo a nós, a mágica acontece.
Eu achei o final um tanto fraco, a peça faz uma curva e perde fôlego justamente na sua última cena. Não senti um grande impacto como deveria, falta uma certa construção. Talvez eu tenha esvaziado em algum momento. Não mudou a minha vida mas foi um espetáculo que me deu material pra cacete como artista.
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E cada vez mais eu percebo que o público quer participar da porra do espetáculo. Seja em trabalhos de faculdade ou em espetáculos no Oi Futuro, se o público passa por uma experiência sensorial, além da experiência intelectual, a coisa toma uma medida de potencia incrível. As pessoas não querem mais o participar por participar. As pessoas querem viver, vivenciar o teatro.
Ou algo do tipo.
Vou pensar mais nisso nos meus trabalhos. Definitivamente.
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