Eu não sei se ele ainda gosta de calda em cima do pudim. Se pára de pedalar pra bicicleta andar sozinha. Se coloca uma colher e meia de açúcar no café. Se corre pro ponto antes que o ônibus saia de lá, ou se deixa o ônibus ir e espera o próximo. Eu não sei se ele gosta de andar descalço no carpete. Se morde a bala, ou se chupa. Se deixa o primeiro botão da camisa aberto, ou se não usa camisa de botão. Eu não sei se ele desviaria o olhar, ou se continuaria olhando. Se ele tivesse ficado por pelo menos mais um pra sempre. Mas hoje eu não sei nem mais quantos palmos meus cobriam o seu rosto.
As pessoas sempre vão, sabe. E você acaba esquecendo. E você acaba descobrindo que dá pra viver sem elas e que vai faltar assunto quando você encontrá-las inesperadamente na fila do caixa eletrônico. Não que não tenha sido bom, não que você deixe de pensar nelas, mas você acaba se acostumando com a ausência das coisas, seja a pipa do seu time que ficou presa na árvore, seja o seu melhor amigo da 2ª série, ou a sua cama antiga, que era bem mais macia que a nova.
E foi assim que aconteceu. Ele pegou o copo d’água dele no balcão e eu o meu. E eu não soube o que dizer.
- Ta tudo bem, sim. (Eu só não sei se você ainda enche as mãos de areia e joga tudo no pé. Então não, não está tudo bem, porque eu descobri que posso esbarrar com a superficialidade com a mesma facilidade de quem abre a boca pra falar. Descobri que não tenho mais vontade de te fazer rir, e pensar que eu achei que te desejaria pra sempre. Não é culpa sua, meu bem, nem minha. Chega uma hora em que a gente não sente nem mais falta, né? Por mais que eu pense, nada vai trazer o que quer que seja de volta, e eu nem me sinto mal por isso, porque nem mais vontade eu sinto. Acho que se eu tivesse que passar a morar numa gaveta eu me acostumaria, assim como me acostumei com esse meu corte de cabelo tosco e com a sua ausência. E, sabe, infelizmente, eu não acho isso ruim.) E com você?
Marina Dias
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Referências de vida.
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