segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

★ Pivomaia Pennym, Pedro Maia te mandou uma mensagem

Pedro Maia te mandou uma mensagem
 
 
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

conto curto de carnaval

Conto curto de carnaval - 

A multidão na cidade, pessoas aproveitando a única época do ano em que podem vestir as roupas e fantasias que sempre sonham usar. Os super heróis, pierrôs, freiras e noivas pulando e dançando suas marchas que não cansam de ser repetidas. No meio dessa multidão, um casal se beija.
O beijo sincero de toques e línguas e um carinho que não deixa dúvidas da verdade daquele momento.
Param de se beijar. Se olham. Riem um para o outro, revelando seus dentes.
Ela: Eu não sei o seu nome.
Ele: É palhaço.
Ela: Meu nome é Renata.

Sorri.

domingo, 27 de novembro de 2011

72 horas in clown - Dia 4 - Eu não gosto de palhaço




Acordo cedo depois de uma noite pessimamente dormida. Tenho a mesma sensação que já tive de um certo ódio e apreensão por ter de sair novamente com o nariz. Sempre a antecipação.
Me arrumo, vou sair, minha mãe pergunta se o nariz não atrapalha pra respirar (coisa que a maioria das pessoas pergunta, quando pergunta algo). Vou à Primavera dos Livros. Compro tudo que não comprei na Bienal. Uma criança me aborda, curiosa. Pergunta se eu sou um palhaço. Pergunto porque ela acharia isso e ela diz no ouvido da mãe baixinho que é por causa do nariz (afinal é falta de educação falar do nariz dos outros). Uma das vendedoras que eu já inclusive havia passado pergunta o porque do nariz e outro rapaz pergunta se é um protesto pelo preço dos livros.
Saio de lá e vou para o Nova América Shopping, na zona norte. A amiga com mania de registro está comigo todo esse tempo.
Percebo que as pessoas no Nova América são muito mais agressivas. Muitos (principalmente homens) olhavam insistentemente e de um modo quase agressivo quando passavam por mim e não faziam qualquer questão de disfarçar. Me incomodou por muitas vezes.
Comi algo (fetuccine pela foto), peguei um ônibus e fui para o Norte Shopping assistir um espetáculo. Lá chegando, me dei a permissão de não usar o nariz pelo simples fato do espetáculo ser infantil e não queria chamar atenção. E aprendi que com crianças não há muito controle sobre isso. Além da questão da fruição que eu já abordei.
Assisti o espetáculo, fui trocar o sorvete que havia ganhado e a menina que me atende pergunta “isso é um nariz de palhaço?”. Respondi que sim. “Hum... eu não gosto de palhaço.” Eu não estava usando-o, somente com ele pendurado e puxei assunto e conversamos rapidamente, coisa que eu não faria em outras condições, imagino eu.
Depois fiquei pensando se a ausência do nariz me deu alguma leveza ou mudou de algum modo a minha relação com as coisas. Aumento da autoestima ou coisa que o valha.
Saio do shopping, vou para a casa. Ônibus, olhares, o de sempre, nenhuma surpresa.
Chego em casa e volto à minha rotina hermitã de estudo e planejamento.
De manhã estou de folga do nariz por questões profissionais, mas termino finalmente as minhas 72 horas (que como comentado por alguém, são mais que 72 horas) in clown chegando atrasado na aula de ATAT na UNIRIO.

72 horas in clown - Dia 3 - O Palhaço Clownrequinha está morto!



Dia morto. Pra relações sociais. Na internet não importa se estou vestido, pelado, com nariz vermelho, azul ou sem nariz. Posso ser pinóquio ou Michael Jackson. Fico o dia inteiro em casa estudando e dormindo. Por meu quarto ser quase isolado do resto da sala, mal vejo minha avó e mãe e muito menos os pedreiros.
Sem muitos comentários com relação ao nariz. Algumas frustrações pessoais e discussões que nunca levam a lugar nenhum. Tudo efêmero como sempre é e foi.

72 horas in Clown - Dia 2 - Clown Clownsa

 
Já acordo atrasado para um show que iria na Cinelândia às 13:00. Com as obras aqui em casa e ainda as mil coisas atrasadas a serem resolvidas o nariz era só mais um fardo a ser enfrentado. Já acordei pensando “que saco esse nariz”. Celular descarregado, aula a ser planejada para a manhã do dia seguinte em Niterói, compromissos e a porra do nariz de palhaço.
Me explico: se eu estou de mal humor, ou com alguém que não estou afim, ou com energia pesada e baixa eu simplesmente sigo reclamando ou fingindo que não existo e faço tudo o que tenho de fazer. Mas o nariz simplesmente não me deixa entrar nesse estado. Além de tudo, ainda estou com um nariz de palhaço na cara e todos passam e olham reparando meu mau humor, ou coisa que o valha.
Fui encontrar com uma amiga (não estava com o melhor humor também com relação a ela), perdemos o show atrasados. As pessoas passavam e reparavam mas não tinham reação muito maior que o habitual. Essa amiga adorou a ideia de registrar o palhaço e tudo era motivo de foto. De ponto de ônibus até atravessar a rua. Eu nunca fui fã de fotos e se geralmente o nariz me deixaria de bom humor, caso houvesse outro contexto (ou houvesse algum contexto), esse não me deixava mais simpático. Muitas questões pessoais envolvidas também.
Fomos a uma exposição, e lá dentro nenhuma reação anormal. Depois que percebi que as pessoas poderiam associar o nariz a um defeito físico, sempre parece que talvez seja isso que se dê. Outra teoria é a de que as pessoas simplesmente não se olham no rosto. Pode haver um cara com nariz de palhaço na sua frente e você não irá perceber.
Ela vai embora e eu vou ler roteiros na ABL enquanto espero para um outro show. Em alguns minutos sai um grupo de estudantes. As reações são quase agressivas. Alunos gritando “ô palhaço!”, mas nenhuma aproximação. A agressividade tomou forma pela primeira vez. Curiosamente não me surpreendi. Preferi ignorar, apenas anotando o que havia ocorrido.
Depois fui para o outro show, encontrando com amigos meus que já haviam me visto na noite anterior no bar. Explico o motivo do nariz pra outros conhecidos e entro no show. Na entrada uma idosa comenta “esse aí tá animado!” pra mim. Durante o show, tiro o nariz. O nariz me tira um tanto da fruição. Me distrai por algum motivo que imagino ser a produção de presença que ele impõe.
Saio do show. Estou exausto. No caminho pra casa as mesmas caras. Chego em casa e me tranco no quarto. Vou dormir depois de algumas horas de internet. Penso que poderia ter ficado ou saído pra beber ou qualquer coisa já que meu compromisso do dia seguinte de manhã fora cancelado, mas o nariz me dá uma preguiça de sair e fazer qualquer coisa. Caso eu pretenda fazer algo, terá de ser com o nariz.


sábado, 26 de novembro de 2011

72 horas in clown - É falta de educação falar do nariz dos outros


Fim do dia 1 - 24/11





Ao fim do dia estava exausto. O nariz impõe minha presença aos outros. Se a princípio eu achei que iria me dar uma certa liberdade maior por estar mascarado, a máscara me poe em evidência. Tanto para os outros quanto para mim mesmo. Estar em evidência por uma, duas horas é uma coisa, é mesmo meu trabalho. Mas durante todo o tempo ser lembrado por um elemento externo que você está ali naquele momento e naquele lugar é extremamente cansativo.
Por muitas vezes me pegava adiantando processos, pensando já no que poderia acontecer ao chegar em tal lugar ou falar com tal pessoas com o nariz. Não podia simplesmente fingir que não existia ou passar qualquer momento em estado de mecanização. A relação que mais me impressionou por ser inesperada foi a minha comigo mesmo. Me ponho em evidência não só no lugar em que passo por estar diferente, mas para mim mesmo.
Quanto aos outros, é interessante como as pessoas ou precisam de alguma explicação para o que acontece ou simplesmente ignoram. Os lugares onde senti meu nariz ser mais ignorado foram em lojas ou estabelecimentos em que eu seria atendido (deve haver algum tópico no treinamento que afirme que não é educado olhar pro nariz vermelho dos outros) e na UNIRIO, faculdade de teatro em que mais uma vez minha teoria de que qualquer performance praticada naquele espaço torna-se esvaziada por virar banalidade. Um homem com nariz de palhaço, o que tem de diferente nisso?
Como lidar com as crianças? Assumi um papel lúdico. As crianças não questionam se é um homem com nariz de palhaço, mas reconhecem o palhaço em si. Não há o estranhamento mas a identificação. Como lidar com isso foi uma das questões enfrentadas. Resolvi assumir o papel que elas esperavam de mim e brincar com o jogo. Foram os momentos mais tranquilos do dia, quando eu e o nariz representávamos algo só. Talvez durante todo o tempo eu briguei com o nariz. Me vi inconscientemente desviando caminhos para evitar passar por certos lugares com número maior ou tipo específico de pessoas.
No final do dia, ocorreu o inesperado de perceber que as pessoas podem associar o nariz a algum defeito físico real, não lendo o nariz como algo inorgânico em mim. Comentários me fizeram repensar todos os olhares que havia recebido durante o dia. O nariz não tem uma cor forte e é, segundo alguns, bastante orgânico.
No fim das contas, não houve grande transformação além dos olhares estranhando e ignorando logo depois. Porém estar nesse lugar durante todo o tempo impondo a mim mesmo a minha presença... sem contar o vapor no óculos e a dificuldade de respirar.

72 horas in Clown - Dia 1 - em tempo real no tempo virtual

via facebook
72 hs in clown - reação de avó "o que é esse nariz? por causa da poeria da obra?" - e seguiu sem nenhuma mudança aparente. - 14:25 - 24/11/2011
72 hs in clown - "vi de longe, achei que o seu nariz estava inchado. protestando contra o quê? a obra?!" - Dinha, trabalha aqui na casa

· · · quinta às 14:27 via yoono
maiores detalhes, olha no meu perfil do facebook:  https://www.facebook.com/pivomaia (não descobri como postar links para os posts diretos.

anotações ao longo do dia - 24/11


- Questões de avó: “Olha Pedro, qualquer coisa você sabe que tem aquele outro nariz não é? Ele tá limpinho.”

17:56 – primeira reação direta de crianças - “Olha lá o palhaço!” Diz o irmão para a irmã menor. Ela fica olhando fascinada.

18:54 – Menina bonita na plateia do espetáculo sendo assistido na UNIRIO: “Amei o nariz!” , e faz sinal de “fofinho”.

19:58 – primeiro questionamento sobre o porque do nariz. Não respondo exatamente por estar no meio da aula, faço um sinal vago qualquer e ela dá um sorriso. Reparo outro sorriso em um colega meio de longe.

20:34 – outra colega pergunta. Eu explico a performance e ela pergunta se é algum protesto. Segunda pessoa que faz essa interpretação. “Oprimido e opressor” diz ela. Eu digo que não, só um nariz em um Pedro. Ela diz, só o estar aqui e agora né? Penso que deveria chamar ela pra fazer o aporte teórico da performance.

22:53 – criança pergunta: “Você é palhaço?”. Fico sem resposta. Não é o objetivo ser palhaço enquanto estou com o nariz, mas apenas seguir minha rotina normal com um nariz de palhaço. Digo que sou mas estou de folga. É desastroso pois ela fica meio decepcionada. Qual a melhor resposta?

23:00 – No ônibus 3 crianças sentam-se ao meu lado e fazem a mesma pergunta. Decido entrar no jogo e brinco com elas. Uma delas diz “mas sério, esse nariz não é seu né? Tira ele?” no que eu respondo: “se você tirar o seu primeiro eu tiro o meu.”

00:30 – chego em um bar para um aniversário de amigo, questionamentos e por alguns minutos ainda riem olhando pra minha cara. Um deles (o aniversariante) aperta o meu nariz pela primeira vez no dia. Ao final há uma conversa sobre o porque do nariz. O fato de estar na UNIRIO justifica tudo. Eles já imaginavam.

00:48 – Um grupo saindo de um bar, provavelmente trabalhavam olha pra mim e fica impressionado. “É real?”, diz uma menina. Outro chega mais próximo e percebe que é falso. Pela primeira vez percebo que o nariz pode ser associado também a um defeito físico real pelos outros.

01:12 – Central do Brasil voltando pra casa, dois homens catadores de papel. Um deles grita “Ô palhaço!”, eu respondo minha resposta clássica clichê “Quem tem cara de palhaço aqui?”, ele responde algo como “O meu patrão!”, no que o outro companheiro prontamente fala um pouco mais baixo pra ele “Pô o cara tem um defeito no nariz.”