Já acordo atrasado
para um show que iria na Cinelândia às 13:00. Com as obras aqui em
casa e ainda as mil coisas atrasadas a serem resolvidas o nariz era
só mais um fardo a ser enfrentado. Já acordei pensando “que saco
esse nariz”. Celular descarregado, aula a ser planejada para a
manhã do dia seguinte em Niterói, compromissos e a porra do nariz
de palhaço.
Me explico: se eu estou
de mal humor, ou com alguém que não estou afim, ou com energia
pesada e baixa eu simplesmente sigo reclamando ou fingindo que não
existo e faço tudo o que tenho de fazer. Mas o nariz simplesmente
não me deixa entrar nesse estado. Além de tudo, ainda estou com um
nariz de palhaço na cara e todos passam e olham reparando meu mau
humor, ou coisa que o valha.
Fui encontrar com uma
amiga (não estava com o melhor humor também com relação a ela),
perdemos o show atrasados. As pessoas passavam e reparavam mas não
tinham reação muito maior que o habitual. Essa amiga adorou a ideia
de registrar o palhaço e tudo era motivo de foto. De ponto de ônibus
até atravessar a rua. Eu nunca fui fã de fotos e se geralmente o
nariz me deixaria de bom humor, caso houvesse outro contexto (ou
houvesse algum contexto), esse não me deixava mais simpático.
Muitas questões pessoais envolvidas também.
Fomos a uma exposição,
e lá dentro nenhuma reação anormal. Depois que percebi que as
pessoas poderiam associar o nariz a um defeito físico, sempre parece
que talvez seja isso que se dê. Outra teoria é a de que as pessoas
simplesmente não se olham no rosto. Pode haver um cara com nariz de
palhaço na sua frente e você não irá perceber.
Depois fui para o outro
show, encontrando com amigos meus que já haviam me visto na noite
anterior no bar. Explico o motivo do nariz pra outros conhecidos e
entro no show. Na entrada uma idosa comenta “esse aí tá animado!”
pra mim. Durante o show, tiro o nariz. O nariz me tira um tanto da
fruição. Me distrai por algum motivo que imagino ser a produção
de presença que ele impõe.
Saio do show. Estou
exausto. No caminho pra casa as mesmas caras. Chego em casa e me
tranco no quarto. Vou dormir depois de algumas horas de internet.
Penso que poderia ter ficado ou saído pra beber ou qualquer coisa já
que meu compromisso do dia seguinte de manhã fora cancelado, mas o
nariz me dá uma preguiça de sair e fazer qualquer coisa. Caso eu
pretenda fazer algo, terá de ser com o nariz.
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