72 horas in Clown -
DIÁRIO DE BORDO
Dia 1 – 12:20
No final de meses de
pensando em muitas performances, algumas realizadas e grande parte
delas ainda guardadas na gaveta e buscando uma alternativa à ideia
da “corrida do metrô” que não pôde ser estruturada por motivos
diversos, pensei em fazer o reenactment do “free hugs”. Porém,
nos últimos 20 minutos troco minha ideia e farei o que batizo de “72
horas in clown”.
O número de 72 horas
é fictício, a princípio não pretendo me ater a um número
fechado. Mas essa base de horas é um mecanismo para manter uma
disciplina pessoal.
A ideia da performance
é passar a maior parte do tempo possível durante minha vida pessoal
com um nariz vermelho de palhaço. A ideia veio inspirada na aula de
ATAT em que, por conta de uma festa de aniversário, ficamos toda a
aula com um chapéu de aniversário, gerando o questionamento do
quanto a imagem afeta as relações sociais.
Meu objetivo é
observar o quanto as relações mudam em relação a mim, mas
principalmente o quanto eu mudo em relação os outros. Não tenho um
clown no sentido formal. Nem trabalhei com palhaço diretamente
durante minha vida profissional, porém o uso do nariz em momentos
específicos sempre me trouxe um certo relaxamento e liberdade nos
riscos de relação. Pretendo perceber as mudanças durante esses
dias (a princípio até segunda feira às 15 horas) e ir registrando
neste blog em períodos indefinidos.
Logo ao definir a
performance, esbarrei em dificuldades minhas de cunho pessoal. Mesmas
dificuldades que talvez tenham me impedido de trabalhar nas outras
performances. A previsão de situações que eu me vi tendo de passar
com o nariz de palhaço, como compromissos profissionais por exemplo
me criou certa tensão. Ao mesmo tempo que essas situações mais
extremas de relação social / profissional seriam os momentos mais
interessantes por trazer uma tensão entre o mecanismo e as relações,
mexeria em questões pessoais que me vi não disposto ainda a
trabalhar. Assim, fiz um acordo comigo mesmo que situações
profissionais que exigem uma máscara maior que a do clown em poderia
ficar sem o nariz. Digo máscaras sociais, principalmente no nível
profissional. Neste final de semana justamente terei reuniões, darei
uma aula e uma palestra para pessoas que não me conhecem
anteriormente, além de espetáculos. “A primeira impressão é a
que fica” diria a minha avó. Fica então acordado que durante este
período o nariz será usado o máximo de tempo possível durante
minhas relações pessoais.
Minha primeira ação
foi mudar as fotos de todos os perfis sociais para uma atualizada já
com o nariz. Em 20 minutos houve um comentário sobre a foto -
“gostei da foto”. Este comentário foi feito pela única pessoa
até o momento que sabe da performance. Esta mesma pessoa ficou
decepcionada pelo fim da performance na segunda feira por eu não
fazer o espetáculo com contos de Machado de Assis na segunda à
noite com o nariz. Comentário obviamente irônico.
Neste momento digito
com o nariz e são exatamente 13:00. Em algumas horas sairei para uma
aula na UNIRIO e em alguns minutos irei almoçar. Ninguém da minha
família ou daqui de casa me viram já com o nariz. E está
acontecendo uma obra. A casa está sendo frequentada por pessoas sem
proximidade comigo.
Porém, até o momento
às 13:02, o que mais incomoda é o vapor da minha respiração
batendo nas lentes dos meus óculos.
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