quinta-feira, 24 de novembro de 2011

72 horas in clown


72 horas in Clown - DIÁRIO DE BORDO



Dia 1 – 12:20

No final de meses de pensando em muitas performances, algumas realizadas e grande parte delas ainda guardadas na gaveta e buscando uma alternativa à ideia da “corrida do metrô” que não pôde ser estruturada por motivos diversos, pensei em fazer o reenactment do “free hugs”. Porém, nos últimos 20 minutos troco minha ideia e farei o que batizo de “72 horas in clown”.
O número de 72 horas é fictício, a princípio não pretendo me ater a um número fechado. Mas essa base de horas é um mecanismo para manter uma disciplina pessoal.
A ideia da performance é passar a maior parte do tempo possível durante minha vida pessoal com um nariz vermelho de palhaço. A ideia veio inspirada na aula de ATAT em que, por conta de uma festa de aniversário, ficamos toda a aula com um chapéu de aniversário, gerando o questionamento do quanto a imagem afeta as relações sociais.
Meu objetivo é observar o quanto as relações mudam em relação a mim, mas principalmente o quanto eu mudo em relação os outros. Não tenho um clown no sentido formal. Nem trabalhei com palhaço diretamente durante minha vida profissional, porém o uso do nariz em momentos específicos sempre me trouxe um certo relaxamento e liberdade nos riscos de relação. Pretendo perceber as mudanças durante esses dias (a princípio até segunda feira às 15 horas) e ir registrando neste blog em períodos indefinidos.
Logo ao definir a performance, esbarrei em dificuldades minhas de cunho pessoal. Mesmas dificuldades que talvez tenham me impedido de trabalhar nas outras performances. A previsão de situações que eu me vi tendo de passar com o nariz de palhaço, como compromissos profissionais por exemplo me criou certa tensão. Ao mesmo tempo que essas situações mais extremas de relação social / profissional seriam os momentos mais interessantes por trazer uma tensão entre o mecanismo e as relações, mexeria em questões pessoais que me vi não disposto ainda a trabalhar. Assim, fiz um acordo comigo mesmo que situações profissionais que exigem uma máscara maior que a do clown em poderia ficar sem o nariz. Digo máscaras sociais, principalmente no nível profissional. Neste final de semana justamente terei reuniões, darei uma aula e uma palestra para pessoas que não me conhecem anteriormente, além de espetáculos. “A primeira impressão é a que fica” diria a minha avó. Fica então acordado que durante este período o nariz será usado o máximo de tempo possível durante minhas relações pessoais.
Minha primeira ação foi mudar as fotos de todos os perfis sociais para uma atualizada já com o nariz. Em 20 minutos houve um comentário sobre a foto - “gostei da foto”. Este comentário foi feito pela única pessoa até o momento que sabe da performance. Esta mesma pessoa ficou decepcionada pelo fim da performance na segunda feira por eu não fazer o espetáculo com contos de Machado de Assis na segunda à noite com o nariz. Comentário obviamente irônico.
Neste momento digito com o nariz e são exatamente 13:00. Em algumas horas sairei para uma aula na UNIRIO e em alguns minutos irei almoçar. Ninguém da minha família ou daqui de casa me viram já com o nariz. E está acontecendo uma obra. A casa está sendo frequentada por pessoas sem proximidade comigo.
Porém, até o momento às 13:02, o que mais incomoda é o vapor da minha respiração batendo nas lentes dos meus óculos.

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