Ele chegou em casa. Sua cabeça rodava e doía. Eram como golpes de cello em uma composição forte. O grave batia em sua mente de forma constante e forte. O bate estaca da música morava na circunferência inferior de seu cérebro.
Os violinos passavam seus arcos agudos pouco acime de seu pomo de adão, sufocando-o tanto quanto as pancadas fortes da baqueta na percussão pesada.
Abriu a porta de um golpe só, como nos filmes. Não lembra de ter tido o tempo realista de tirar a chave e aberto a porta. Apenas de sua entrada.
Andou com o mundo descompassado dançando em um ritmo que não era o seu e dançou como mundo andando descompassado sob os seus pés. Era o único jeito que tinha de chegar ao banheiro.
Passou pela porta de seu quarto. Vazio. Não havia ninguém.
Parou, esforçou-se para achar o equilíbrio e o foco que já não o acompanhava a horas, fez-se tão automático e com tanta qualidade quanto o de uma câmera digital amadora. Percebeu a cama desarrumada, a parede branca, o armário cobre meio aberto e duas blusas jogadas no chão. A cama que parecia tão confortável não trazia a vontade de deitar ou dormir mas a sensação de armadilha que o sufocaria e mataria assim que ele se deitasse. Olhos castanhos. Movimentos pélvicos. A luz entrava pela janela. Era a luz pura da lua entrecortada pelos cortes do vidro da janela. Teve sempre orgulho de poder ver a lua em dias específicos mas a janela lhe trouxa mais prisão do que serenidade. Viu o computador ligado. A tela desligada. Luz. Vermelho. Solo. O computador ainda conectado a Internet. Facebook. Permaneceu ainda olhando por um tempo que poderia ser 10 segundos, 3 minutos ou 5 dias. Não entrou no quarto. Ficou parado no corredor vendo pela porta como se fosse uma LCD de x polegadas. Mas não lhe pareceu full hd.
Olhou para o chão. Perdeu o foco.
Entrou no clichê da última porta à direita e entrou no banheiro.
Sentou-se no vaso sanitário. Respirou fundo.
Morreu.
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